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01 Março

Pesquisadores buscam por trabalho escravo com a ajuda de satélite

PESQUISADORAS ANALISAM IMAGENS DE SATÉLITE (FOTO: DIGITALGLOBE, A MAXAR COMPANY)


Cientistas da computação, especialistas em escravidão e estrategistas políticos apresentaram, nesta semana, um projeto que visa identificar locais de trabalho escravo a partir da analise de imagens de satélite diretamente do espaço. A iniciativa foi apresentada em uma conferência na cidade de Nova York e foi patrocinada pela Universidade das Nações Unidas (UNU).

De acordo com as estimativas da Organização Internacional do Trabalho, cerca de 40 milhões de pessoas em todo mundo vivem mantidas em cativeiro. Apesar desse expressivo número, encontrar esses indivíduos pode ser uma tarefa difícil. “As pessoas afetadas por isso são muitas vezes escondidas do olhar do Estado", dizJames Cockayne, diretor do Centro de Pesquisa Política da UNU, em Nova York, que ajudou a organizar a conferência.

Doreen Boyd, uma das pesquisadoras responsáveis pelo projeto e diretora do programa de dados no Laboratório de Direitos da Universidade de Notthingham, no Reino Unido, estima que ao menos um terço de toda a escravidão que acontece na Terra pode ser vista do espaço.

Em entrevista à revista Science, a pesquisadora lembra que a primeira vez que conseguiu identificar uma imagem de satélite com pessoas nessa situação foi em 2017, quando avistou a região de Rajasthan, na Índia, e notou uma forma oval marrom de um forno de tijolos — um tipo de local conhecido por ter pessoas executando trabalho forçado.

A ideia de analisar imagens de satélite à procura de escravidão não é de hoje. Desde 2015 os satélites de observação da DigitalGlobe — empresa que fornece boa parte dos dados que o Google Earth usa atualmente — estudou imagens do lago Volta, em Gana, com esse intuito.

Na época, especialistas já suspeitavam que crianças eram forçadas a trabalhar na pesca na região do país africano. "Estávamos olhando por todo esse enorme lago para tentar detectar barcos", explica Rhiannan Price, diretor do programa de desenvolvimento global da DigitalGlobe em Westminster, Colorado.

Após anos de trabalho, hoje em dia Doreen Boyd usa inteligência artificial para acelerar a procura das imagens. Em parceria com outras pesquisadoras do Laboratório de Direitos, ela quer identificar fornos de tijolos. 

No mês passado, na revista Remote Sensing, Boyd e as pesquisadoras relataram que os algoritmos puderam identificar corretamente 169 dos 178 fornos nos dados do Google Earth em uma área de Rajasthan. As imagens também produziram nove falsos positivos.

Com o projeto, é possível ver uma colheita de algodão no Turquemenistão e dizer, com base na rapidez com que a fibra branca desaparece, se o trabalho foi feito por máquinas ou a partir da força de trabalho humano.

A iniciativa planeja também usar dados de satélite em outras partes do mundo. O Sentinel-1 da Agência Espacial Européia, por exemplo, já é utilizado como radar para medir pequenas mudanças na elevação do solo.


FONTE: revistagalileu.globo.com