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30 Agosto

Anos entre 2018 e 2022 serão 'anormalmente quentes', diz pesquisa


Uma turista se abana com um leque próximo ao Coliseu de Roma, para aplacar o calor. O verão europeu de 2018 alcançou recordes de temperatura - ANDREAS SOLARO / AFP


PARIS - A onda de calor que tem afetado particularmente países europeus e alguns asiáticos, como o Japão, nos últimos meses, deve se repetir com frequência ao longo dos próximos quatro anos. Um estudo desenvolvido no Centro Nacional de Pesquisa Cientítica (CNRS, na sigla original), na França, indica que o período 2018-2022 tende a ser ainda mais quente do que o esperado com base no atual aquecimento global.


O estudo é liderado por Florian Sévellec, pesquisador do CNRS no Laboratório de Física Oceânica e Sensoriamento Remoto, que criou um algoritmo que se baseia em um método estatístico para pesquisar simulações climáticas dos séculos XX e XXI. O objetivo é encontrar "análogos" das condições climáticas atuais e deduzir possibilidades futuras. A precisão e a confiabilidade desse sistema probabilístico provaram ser pelo menos equivalentes aos métodos atuais, particularmente com o propósito de simular o que ficou conhecido como "hiato do aquecimento global" no início deste século.

De acordo com o novo método, a probabilidade de haver "eventos quentes", como os cientistas chamam, é 69% mais alta do que a prevista anteriormente. Há, ainda, um aumento dramático de 400% na probabilidade de um "evento quente extremo". Segundo a própria definição dada no texto dos cientistas, o período 2018-2022 será "anormalmente quente".


Ilustração feita no Centro Nacional de Pesquisa Científica, na Grança, para retratar o quanto os eventos quentes estão 'pesando' mais do que os eventos frios no planeta - Arte/François Lamidon


Os dados preocupam, já que atualmente muitos países já estão sofrendo com as altas nas temperaturas. Alguns chegaram a registrar mortes por causa da onda de calor. No Japão, pelo menos 80 pessoas morreram nesta estação, e outras 22 mil foram hospitalizadas — a temperatura bateu os 41 graus Celsius, recorde do país. Na Espanha, houve três mortes, com temperaturas de mais de 45 graus. Em Portugal, os termômetros chegaram a marcar 47 graus Celsius.

A pesquisa foi produzida em parceria com a Universidade de Brest, também na França, da Universidade de Southampton, na costa sul do Reino Unido, e do Instituto Meteorológico Real da Holanda. Os dados foram publicados nesta terça-feira, dia 14 de agosto, em artigo na prestigiada revista cientítica "Nature Communications".

AQUECIMENTO GLOBAL NÃO É LINEAR

Na publicação, a equipe que conduziu o trabalho explica que o aquecimento causado pelas emissões de gases do efeito estufa não é linear: tudo indica que ele tenha caído no início do século XXI, um fenômeno conhecido como "hiato do aquecimento global". O novo método utilizado para prever temperaturas médias, no entanto, sugere que, passado esse hiato, os próximos anos provavelmente serão mais quentes do que o esperado.


Para os autores do estudo, um dos aspectos que pode ajudar a explicar esse aquecimento mais intenso é a uma baixa probabilidade de eventos frios intensos nos próximos cinco anos. Isso será ainda mais visível, dizem eles, no que diz respeito às temperaturas da superfície do mar, devido a uma alta probabilidade de eventos térmicos, que, em certas condições, podem causar um aumento na atividade das tempestades tropicais.

No momento, o método só produz uma média geral, mas os cientistas agora pretendem adaptá-lo para fazer previsões regionais e, além das temperaturas, estimar as tendências de precipitação e de seca.

Uma vez que o algoritmo é "aprendido" em um laptop — um processo que leva apenas alguns minutos —, as previsões são obtidas em centésimos de segundo. Um tipo de medição muito mais ágil do que a dos métodos tradicionais de simulação com supercomputadores, que costumam levar uma semana para fazer previsões.


FONTE: https://oglobo.globo.com