NASA produzirá primeiro mapa 3D completo das florestas do planeta
A Nasa, agência espacial dos Estados Unidos, enviará em dezembro à Estação Espacial Internacional (ISS) um novo instrumento cuja tecnologia a laser permitirá a produção do primeiro mapa tridimensional de todas as florestas tropicais e temperadas do planeta. Um dos objetivos do mapa, que terá resolução sem precedentes, é preencher lacunas no conhecimento sobre o ciclo de carbono das florestas.
O instrumento, batizado de Investigação Dinâmica de Ecossistemas Globais (Gedi, na sigla em inglês) será lançado ao espaço pelo foguete Falcon 9, da empresa SpaceX. A previsão da Nasa é que a missão dure dois anos. Nesse período, o Gedi deverá produzir 15 bilhões de observações.
Depois de ser instalado na ISS – que gira em torno da Terra a 27,6 mil quilômetros por hora, numa altitude de 400 quilômetros –, o Gedi será capaz de medir com precisão a estrutura tridimensional das copas das árvores, dos galhos e dos arbustos de todas as florestas que estiverem sob sua trajetória.
Carbono absorvido
Com a nova tecnologia, a missão poderá ajudar os cientistas a localizarem as fontes de emissão e os principais pontos de armazenamento de carbono na floresta, segundo o líder do projeto, Ralph Dubayah, da Universidade de Maryland (EUA). Ele explica que atualmente os pesquisadores sabem quanto carbono está sendo lançado na atmosfera, mas há dúvidas sobre a quantidade de carbono que está sendo absorvida.
“Queremos entender qual é o papel das florestas e, para isso, queremos saber quanto carbono está sendo armazenado nas árvores. Isso é importante porque quando as árvores são cortadas, elas se tornam uma fonte potencial de dióxido de carbono na atmosfera”, explicou Dubayah.
O Gedi é equipado com o chamado Sistema de Perfilamento a Laser (Lidar, na sigla em inglês) que tem sido utilizado para produzir mapas 3D de trechos de florestas e também é usado em missões espaciais, para traçar o perfil de acidentes geográficos em outros planetas, por exemplo.
Mas pela primeira vez o Lidar será utilizado para observar a Terra a partir do espaço, segundo Douglas Morton, pesquisador da Nasa. Morton já participou de estudos que utilizaram o sistema, instalado em aeronaves, para produzir mapas tridimensionais de trechos da Amazônia.
“A partir de sua posição na ISS, o Gedi terá uma visão muito mais ampla do que seria possível a partir de uma aeronave. Durante a missão, ele mostrará todas as florestas tropicais e temperadas de uma maneira inédita”, disse Morton a Direto da Ciência.
Coleção de dados
Em órbita em torno da Terra, fazendo suas observações e medições de forma ininterrupta, o Gedi produzirá uma coleção de dados que não seria acessível de outra forma, disse Morton. “É a diferença entre a coleção visada – quando as medidas são feitas a partir do chão ou de aviões – e a coleção automatizada, que faz as medidas dia e noite sobre a faixa do planeta onde vive a maioria das pessoas.”
Os dados obtidos pelo equipamento permitirá que aos cientistas fazer estimativas sobre a estrutura da floresta, que vão esclarecer onde estão as maiores árvores e as florestas mais densas, por exemplo. “Será possível ver como varia a estrutura de florestas nas áreas mais remotas do planeta, como a Amazônia e a bacia do Congo, ou florestas montanhosas atualmente inacessíveis”, explicou Morton.
O Lidar enviará brevíssimos pulsos de laser que passarão pelas folhas e galhos, indo eventualmente até o chão. Uma fração de cada pulso será refletida de volta ao detector do Gedi, medindo com precisão o tempo de ida e volta do laser, o que permitirá saber a distância de cada objeto e traçar um mapa tridimensional da floresta. Com isso, os cientistas determinarão não só a altura das árvores, mas também a densidade da folhagem e dos galhos – permitindo estimar sua biomassa e, portanto, a quantidade de carbono armazenada.
“O Gedi será a primeira missão a utilizar o sistema Lidar no espaço para o estudo de florestas. A Nasa já lançou outros instrumentos que utilizavam o sistema, mas eles tinham características e objetivos distintos, como o estudo de gelo, por exemplo. A resolução, a amostragem e o laser utilizados no Lidar da missão Gedi foram selecionados especificamente para o estudo de florestas”, afirmou Morton.
De acordo com a Nasa, a missão Gedi teve custo de US$ 94 milhões. As informações obtidas pelo instrumento serão processadas e começarão a ficar disponíveis publicamente cerca de seis meses após o lançamento.
FONTE: diretodaciencia.com/FÁBIO DE CASTRO